segunda-feira, 30 de maio de 2011

CULTURA GREGA

 VIDA GREGA
No ano de 500 a.C. os gregos viviam em pequenos Estados independentes, que consistiam em uma cidade e propriedades agrícolas à sua volta: as Pólis (Πόλις, "Cidades-Estados" como eram chamadas. 

Em toda Pólis (Πόλις) grega havia espaços comuns a todos os grupos sociais e outros reservados aos grupos que eram, de alguma forma, diferenciados. No centro da cidade havia um espaço aberto, chamado Ágora (Αγορά, "reunião"), a praça pública da cidade, era ali que eles se reunião para discutir os assuntos importantes da cidade, era normalmente rodeado pelos edificios privados e públicos mais importantes, como as Estoas (Στοά) pórticos colunados, Pritaneos (Πρυτανεῖον) oficinas administrativas, Bouleterion (Βούλευτηριο) edifício para as reuniões da boulé, e balaneia (Βαλανεια) casas de banhos

Todas as pessoas freqüentavam o mercado e o teatro (Θέατρο). Já a assembléia (ἀγείρω) era reservada apenas aos que eram cidadãos (πολίτες), ou seja, homens livres descendentes de pessoas nascidas na cidade. O conselho e os tribunais eram reservados aos eleitos para suas funções, embora todo cidadão (πολίτη) pudesse sê-lo. O Estádio (Στάδιο) era freqüentado por homens adultos e jovens com mais de doze anos que tivessem tempo livre para praticar esportes. Todos esses lugares ficavam na parte baixa da cidade, a Ágora (Αγορά).
ÁGORA
A Ágora (Αγορά) era o centro populoso da vidade na Pólis (Πόλις). Em várias cidades, os cidadãos se juntavam ali em assembléias para decidir como governar o Estado. Era ali que os juízes da cidade julgavam o povo. Os homens passeavam com seus amigos nas arcadas sombrias. E, todos os anos, a população da cidade se encontrava na Ágora para assistir aos festivais de poesia e aos jogos realizados em honra dos deuses.
Havia um grande movimento no mercado diário, que se realizava ao redor da Ágora. Antigamente eram os homens que faziam as compras. Como não existiam sacolas ou bolsas, os soldados carregavam a mercadoria em seus capacetes. Barbeiros cortavam o cabelo do povo ao ar livre, enquanto mercadores vendiam sua mercadoria em tendas, como peixes e cabras, alguns vendiam sandálias, alguns vendiam cerâmica, e outros escravos.

FORMAÇÃO DO ESTADO GREGO
Por volta de 800 a.C., quem governava as pequenas cidades eram os Aristocratas (Αριστοκράτες, "melhores governantes"). Mas a medida que as cidades cresciam, os mercadores tornavam-se mais ricos, clamando  participação no governo. Os lavradores também queriam efetuar mudanças. Enquanto a população crescia, a terra escasseava. Muitos lavradores tiveram de emigrar, formando assim novas Pólis (Πόλις), outros contraíram dívidas e alguns até venderam a si mesmos como escravos.

Entre os anos 700 e 600 a.C., houveram revoluções em alguns Estados e o povo ajudou tiranos a tomar o poder. Em outros, um alto magistrado, ou funcionário público, foi  designado para elaborar novas leis. Gradualmente, o direito de participação no governo estendeu-se a mais pessoas. Por volta de 500 a.C., em alguns Estados, somente os cidadãos gregos de sexo masculino e donos de terras podiam votar. Em outros, o direito foi extendido a todos os cidadãos homens.

SISTEMA DE GOVERNO


Monarquia (Μοναρχία), o rei, chamado de basileus (Βασιλεύς) governa uma grande extensão de terra e cidades nela situadas, com a ajuda de um conselho de nobres (Ευγενής). Ele é o Sacedote (Ιερεύς), comandante (Κυβερνήτης) do exército e o juiz (Δικαστής) do povo (Δήμος).

Aristocracia (Αριστοκρατία), os nobres tomam o poder do rei (Βασιλεύς) e governam. Quando morriam, os filhos assumiam o seu lugar.


Oligarquia (Ολιγαρχία), governo de poucos, geralmente donos de terras. Os atenienses chamavam esse governo de o "governo dos gordos".


Tirania (Τυραννία), governo de um homem que assume o poder pela força. Freqüentemente é apoiado pelo povo (Δήμος) contra os Aristicratas (Αριστοκράτες).


Democracia (Δημοκρατία), todos os cidadãos homens tomam parte na elaboração das leis. Mulheres, crianças, estrangeiros e escravos não eram considerados cidadãos (πολίτες).


DA GÉNOS ATÉ A PÓLIS


O período heládico foi caracterizado pela comunidade gentílica, fundada na existência de pequenas unidades agrícolas auto-suficientes - os génos (γένος). Nessas unidades, os bens econômicos, como terras, animais, sementes e instrumentos de trabalho, estavam sob o controle do chefe comunitário, chamado Pater (Πατήρ), que exercia funções religiosas, administrativas e judiciárias.


O crescimento demográfico foi a principal causa da decadência dos génos (γένος), na medida em que o pobre solo grego não poderia expandir sua produção de forma proporcional ao aumento populacional.

As disputas pelas terras cultiváveis, o surgimento de proprietários, não-proprietários e daqueles que passaram a dedicar-se ao comércio, bem como os conflitos entre os divernos génes (γένες) que resultou na instabilidade da população.


Nesse processo foram reforçados os elos ente alguns génes (γένες) de uma mesma área geográfica, formando a fratria (φρατρία) e, do mesmo modo, surgiu também a união de várias fratrias (φρατρίες), originando as fínes (φυλές). Como fecho das alianças regionais, as várias fínes (φυλές) reunidas acabaram formando uma estrutura ainda mais ampla, o demos (δήμος), que tinha como chefe supremo o Basileu (Βασιλεύς), um autêntico rei.

Assim, com o fim domínio gentílico sobre a terra, os parentes mais próximos do Pater apropriaram-se das terras mais ricas, passando a ser conhecidos como Eupátridas (Εὐπατρίδαι, os "bem-nascidos"), verdadeiros latifundiários. O restante da terra foi dividida entre os Georgos (γεωργούς, "agricultores"), pequenos proprietários. Os mais prejudicados foram os Thetas (θήτές, "marginais"), excluídos da partilha das terras.

Os novos grupos sociais, as propriedades privadas da terra e o surgimento dos demos (δήμος) marcaram o advento da Pólis (Πόλις) grega. Tendo como ponto geográfico central a Acrópole (Ακρόπολη), local mais elevado da povoação, e em tornou da qual desenvolveu-se um núcleo urbano, as Pólis (Πόλις) logo seriam lideradas por um conselho de Eupátridas (Εὐπατρίδαι), chamados de Aristocratas (Αριστοκράτες).

A continuidade da expansão demográfica e a permanente escassez de terras na Grécia fizeram com que a população buscasse outras áreas para sua sobrevivência. Trata-se do início do processo de colonização grega no Mediterrâneo (Μεσόγειος), com os estabelecimento de inúmeras Pólis (Πόλις) gregas em toda a região do entorno. O processo ficou conhecido como Segunda diáspora (διασπορά) grega.

CIDADÃOS DE ATENAS 

Por volta do século V a.C., todos os cidadãos (πολίτες) de Pólis (Πόλις) de Atenas (Αθήνας) tomavam parte no governo. Os atenienses (Αθηναίοι) não se limitavam a a decidir  como governar o seu Estado. Tinham participação efetiva. Todos os anos, cerca de uma quinta parte dos quarenta mil cidadãos (πολίτες) homens adultos de Atenas (Αθήνας) era convocada para exercer as funções de juízes, funcionários públicos e membros do conselho. Cada indivíduo exercia o seu cargo por um ano. Assim um homem podia ser general num ano e simples soldado no ano seguinte.

Quase todos os cargos públicos eram exercidos em meio-expediente. Como vários cidadãos tinham propriedades agrícolas ou oficinas, dispunham assim de tempo livre quando precisassem. Esse sistema de governo só funcionava porque a população acreditava que governar o Estado era tão importante quanto as suas atividades privadas. A população menosprezava quem não manifestasse interesse pelos assuntos do Estado. Qualquer indivíduo podia ser conselheiro, juiz ou funcionário público pelo menos uma vez. E mesmo que não fizesse parte do governo, o ateniense (Αθηναίος) participava dele através da Assembléia (ἀγείρω). Quem de fato governava o Estado era a Assembléia (ἀγείρω), onde todos os cidadãos (πολίτες) se reuniam mensalmente. Todas as pessoas sabiam exatamente como desempenhar cada cargo público, porque todos os cargos eram debatidos em Assembléia (ἀγείρω). Generais e funcionários públicos não podiam entrar em guerra, aumentar impostos, alterar leis ou gastar o dinheiro público sem o prévio consentimento da Assembléia (ἀγείρω).

CARGOS PÚBLICOS EXERCIDOS POR ATENIENSES

500 conselheiros, os Boulé (Βουλή), escolhidos por sorteio preparavam a pauta de discussão para a Assembléia (ἀγείρω) e vigiavam os funcionários.

Quando um juiz era escolhido para servir durante um ano, uma placa de bronze ou de cerâmica, chamadas ostracon (oστρακoν), com seu nome era colocada numa tábua.  Todos os dias eram escritos muitos nomes, para se fazer o sorteio daqueles que deveriam prestar serviço. Os juízes reuniam-se em grupos de 301 a 1001 para ouvir as causas. Não havia advogados. Os cidadãos (πολίτες) falavam por si mesmos. Às vezes os cidadãos pagavam para que alguém lhes escrevesse os discursos. Um homem podia, também, levar seus filhos para o tribunal, mal vestidos, para obter a simpatia dos juízes.

6000 juízes eram escolhidos por sorteio. Tomavam parte em júris e julgavam causas pendentes entre cidadãos (πολίτες), um tipo de  tribunal popular chamado de Heliéia (Ήλιαία).

Autoridades, entre as quais dez generais, chamados de Estrategos (Στρατηγοί) e dez magistrados, chamados de Arcontes (Ἄρχοντες), escolhidos por sorteio organizavam os festivais e faziam cumprir as leis, auxiliados por outras 1000 pessoas.

 
Placas de Ostracon

CIDADÃOS DE ESPARTA

A vida em várias Pólis (Πόλις) gregas era semelhante à de Atenas (Αθήνας). Mas os habitantes de uma Pólis (Πόλις) chamada Esparta (Σπάρτη), viviam de maneira muito diferente.

Os espartanos (Σπαρτιάτες) tinham invadido a região da Lacônia (Λακωνία), na Grécia, no século XVII a.C. Apropriaram-se das terras dos lavradores transformando-os em escravos, os hilotas (είλωτες), além dos periecos (Περίοικοι), homens livres sem voto, que viviam nas aldeias e produziam outros artigos de que os espartanos (Σπαρτιάτες) necessitavam. Os hilotas (είλωτες) deviam entregar metade de sua produção aos espartanos (Σπαρτιάτες). E Esparta (Σπάρτη), enquanto cidade, limitava-se a controlar a sua imensa população de escravos.

Os cidadãos espartanos (Σπαρτιάτες) eram soldados que se dedicavam integralmente aos treinos militares preparando-se para eventuais revoltas dos hilotas (είλωτες). Aos sete anos, os meninos espartanos (Σπαρτιάτες) deixavam a mãe e iam viver em acampamentos nas montanhas. Ali, descalços e vestidos com uma túnica leve, qualquer que fosse o tempo, treinavam, praticavam jogos de guerra e aprendiam as leis. Mesmo adultos, continuavam a viver em casernas e visitavam a sua mulher secretamente. Durante dois anos, eram obrigados a servir na polícia secreta, que caçava e matva hilotes (είλωτες) desordeiros.

As meninas espartanas (Σπαρτιάτης) também faziam exercícios físicos para que seus filhos nascessem robustos. Os espartanos (Σπαρτιάτες) desprezavam  conforto, a boa comida, roupas macias, palavras desnecessárias e idéias novas. E não possuíam arte.

POLÍTICA ATENIENSE
 
Sólon


Uma das características da vida política na Grécia eram as assembléias (ἀγείρω). Desde o período homérico o rei (Βασιλεύς) contava com a assembléia (ἀγείρω) para saber a opinião dos seus comandados e se queriam argumentar sobre suas decisões. Porém, apesar de permitir a expressão das opiniões, a assembléia (ἀγείρω) não podia decidir sobre nenhum assunto. Era um lugar de discussão, não de deliberação. Essa cabia unicamente ao rei (Βασιλεύς).

 

Todos os membros do Oicos (Οίκος, "família") podiam participar, embora só manifestassem sua opinião aqueles que pudessem pretender o cargo de rei (Βασιλεύς). Para isso deviam possuir terras e aproximar em torno de si seus agregados e alguns outros senhores que lhes devessem favores e hospedagem. A principal função do rei (Βασιλεύς) era proteger a comunidade dos ataques estrangeiros, organizando-a para a defesa, construindo muralhas e dirigindo os combates. Formou-se, assim, uma Aristocracia (Αριστοκρατία) de guerreiros, pessoas que agiam com toda a coragem para cumprir grandes feitos, muitas vezes determinados por oráculos, para o que tomavam atitudes emocionais e ousadas, que os levavam ao combate e nunca ao acordo, desvalorizando a ponderação. Eram os heróis (ήρωας).


Nessa sociedade os conflitos não eram decididos através de um conjunto de leis escritas. O pouco que sabemos é que a defesa de um direito era questão privada, e, portanto, quem se sentisse lesado devia tomar as medidas necessárias para resolver a questão.



Porém, por várias razões, a Pólis (Πόλις) substituiu o Oicos (Οίκος). No caso de Atenas (Αθήνας), isso aconteceu quando os chefes guerreiros passaram a conviver com outros grupos que cresceram em importância econômica, como os comerciantes e os artesãos. No caso de Esparta (Σπάρτη), porque foram dominados e conviviam no mesmo espaço com os dominadores, apesar de manterem as características próprias. Assim, o poder aristocrático passou a sofrer contestações, que se agravavam nos momentos de crise econômica. Esses problemas, em Atenas (Αθήνας), foram resolvidos pelas migrações e por uma série de reformas realizadas por legisladores como Sólon (Σόλων), no século VI a.C., e Clístenes (Κλεισθένης), no século V a.C.; em Esparta (Σπάρτη) manteve-se um governo aristocrático, fortalecendo sua característica militar.

Em Atenas (Αθήνας), Sólon (Σόλων) propôs uma reforma social, para acabar com a escravidão por dívidas, porém manteve o poder nas mãos de um pequeno número de pessoas. Alguns documentos mostram suas idéias a respeito do Estado e das diferenças sociais.  

SOBRE A FUNÇÃO PÚBLICA
Iníquos são os corações dos governantes do povo, que um dia padecerão de muitos sofrimentos por seu enorme orgulho; pois não sabem conter seus excessos [...] Enriquecem com ações injustas, e roubam para si a torto e a direito, sem respeitar a propriedade sagrada ou a pública [...]

(Demóstenes, Grécia Primitiva: Idade do Bronze e Idade Arcaica.)

 SOBRE A IGUALDADE ENTRE OS CIDADÃOS

Ao povo, dei o poder que lhe basta, sem nada tirar nem acrescentar aos seus direitos. Em relação àqueles que tinham o poder e o impunham por sua riqueza, eu tomei o cuidado de não lhes ferir a dignidade. Eu me coloquei entre os dois partidos, cobrindo-os com um forte escudo, e não deixei que nenhum deles vencesse injustamente.
SOBRE A POPULAÇÃO 

O povo segue bem seus chefes, se não fosse muito livre nem muito brutalizado. Pois a saciedade leva à desmedida, quando uma fortuna cai nas mãos daqueles que não têm sabedoria suficiente.

(Aristóteles, Constituição de Atenas)


As reformas de Sólon (Σόλων) foram limitadas por essas idéias e não resolveram os conflitos. Clístenes (Κλεισθένης), um século depois, fez uma outra reforma tocando diretamente nos antigos direitos dos Aristocratas (Αριστοκράτες), uma vez que modificou o princípio de direito familiar, através de uma redivisão matemática do território ateniense (Αθηναίος), diminuindo as diferenças sociais.

 

O modelo democrático de Clístenes (Κλεισθένης) espalhou-se pela Grécia. Por volta de 547, Tales fez uma proposta à Assembléia (ἀγείρω) do Panonion semelhante ao projeto de Clístenes (Κλεισθένης): criar um conselho único em Teos (Τέως) - centro da Jônia (Ιωνία) - e as outras cidades serem consideradas partes diferentes de um mesmo Estado.

 

Em Cirene (Κυρήνη), segundo Heródoto (Ηρόδοτος), por volta de 550, os habitantes consultaram o oráculo de Delfos (Δελφοί) para saber qual a melhor forma de governo, e Pítia (Πύθια) aconselhou-os a que pedissem a Demônax (Δημώναξ) uma Constituição. Demônax (Δημώναξ), então, repartiu a população em três tribos, retirou do rei (Βασιλεύς) todas as suas prerrogativas, com exceção das religiosas, e as concedeu ao povo.

 

Essa idéia de política fundada na justiça, enquanto distribuição aritmética do bem comum, será retomada pelo filósofo Platão (Πλάτων), na sua última obra, As leis (Νομοι), na qual aconselha os reformadores e os fundadores de novas cidades:

 

A migração é uma forma de escapar às questões complicadas que dizem respeito à propriedade das terras, ao perdão de dívidas e às partilhas; porém, quando uma cidade antiga tem que legislar sobre esses assuntos, deve fazê-lo a longo prazo e de maneira cautelosa, para não provocar conflitos. O melhor jeito é quando os reformadores são ricos proprietários de terras, muitas vezes credores de parte da população, e, com espírito de conciliação, resolvem conceder uma parte de seus bens aos mais miseráveis através do perdão das dívidas ou da distribuição de terras. [...]

 

Os reformadores devem estar convencidos de que o empobrecimento acontece devido ao crescimento da avareza e não à diminuição da riqueza. Se eles estiverem conscientes disso, edificarão uma organização política saudável; do contrário, a cidade terá dificuldades políticas.

 

A maneira segura de escapar ao perigo da avareza é a justiça na repartição de bens, e é o que deve terem mente aquele que foi indicado pelos deuses para fundar uma cidade.

DIVISÃO DAS RIQUEZAS
A primeira coisa a fazer é estabelecer o número total da população, e em seguida pensar na classificação dos cidadãos (πολίτες) para dividi-los nas classes entre as quais serão repartidas a terra e as habitações.


A escolha desse número só pode ser feita corretamente se levar em conta o território ocupado pela cidade e a vizinhança. O território deve ser de tamanho suficiente para alimentar a população, e esta precisa ser composta por um número suficiente para se defender dos vizinhos hostis e auxiliar os aliados.

Porém se quisermos fazer um projeto para a construção de uma cidade, sem saber ao certo as condições de seu território, podemos pensarem um número que admite o maior número de divisores, para que os legisladores possam fazer todas as combinações necessárias. Esse número é cinco mil e quarenta, tem cinqüenta e nove divisores.
(Platão, As Leis.)



 FUNÇÃO DA DEMOCRACIA ATENIENSE

O sistema de funcionamento da democracia (Δημοκρατία) ateniense (Αθηναίος) implicava uma série de regras de participação, entre as quais se incluíam igualdade de oportunidades e consciência de cidadania; porém, deixava uma brecha para a morosidade das decisões e a corrupção, seus obstáculos.


A igualdade de oportunidades se traduzia em salário para os cidadãos ativos, conforme informa Aristóteles (Αριστοτέλης).

 
Em primeiro lugar o povo dá um salário aos que se reúnem na Assembléia, uma dracma para as sessões ordinárias, nove óbolos para a assembléia principal de cada pritania. Os juízes recebem três óbolos, os buleutas cinco óbolos, mas os que são prítanes recebem um óbolo suplementar para a sua alimentação (...] (pois muitas vezes não moram em Atenas). Os nove arcontes recebem cada um quatro óbolos para a sua alimentação e para o sustento de um arauto e de um tocador de flauta, o arconte de Salamina tem uma dracma por dia. Os atletas tomam as suas refeições no Pritaneu, durante o mês de Hecatombeon, em que têm lugar as Panatenéias. A sua função começa no quinto dia. Os anfictiões que estão em Delos recebem uma dracma por dia, levantada do tesouro do santuário. Enfim, todos aqueles que são enviados como magistrados para Samos, Ciros, Lemnos ou Imbros recebem uma compensação em gêneros Para a sua alimentação.
(Aristóteles, Constituição de Atenas.)

 

A consciência da cidadania se traduzia na obediência às leis, consideradas pelos tribunais a garantia da democracia, e em nome delas os atos do governo não podiam ser desobedecidos, conforme escreveu Platão (Πλάτων) em seu diálogo Críton (Κρίτων), no qual Sócrates (Σωκράτης), condenado por discutir as normas, mostra o ponto de vista das Leis.

 
Com efeito, fomos nós que te demos a vida, que te alimentamos, que vigiamos a tua educação, que te demos, assim como aos outros cidadãos, todos os bens possíveis. Ora nós dizemos que qualquer cidadão que o deseje, depois de ter sido admitido após o exame do corpo cívico, que tenha tomado conhecimento dos assuntos da cidade e de nós, as Leis, não o impedimos, se não lhe agradarmos, de partir de Atenas e de ir para onde quiser, levando consigo o que lhe pertence. Nenhuma de nós, as Leis, impede quem quer que o deseje de partir para uma colônia, se não estiver satisfeito conosco, nem com a cidade; de se ir estabelecer como meteco no estrangeiro; de partir para onde quiser levando seus bens.
 
Mas se algum de vós aqui ficar, sob a nossa forma de fazer a justiça e de administrar a cidade, então nós dizemos que esse se obriga a obedecer-nos e a fazer o que lhe ordenamos.
(Platão, Críton.)

 OCIOSIDADE DA ASSEMBLÉIA

Um ponto sobre o qual ainda se critica os atenienses é que quando se apresenta um requerimento à boulé (Βουλή) ou à ekklesía (Εκκλησία), por vezes espera-se um ano inteiro para se obter uma resposta. A causa única desse atraso é a quantidade de assuntos, que não lhes permitem satisfazer a todos os pedidos.


Como poderia ser, então, se eles têm mais festas para celebrar do que qualquer outra cidade da Grécia e se durante essas festas é impossível de se ocuparem dos assuntos da cidade? Quando têm que julgar mais processos, mais assuntos respeitantes à cidade e mais prestações de contas do que se julga no resto do mundo? Quando, por outro lado, a boulé (Βουλή) tem de se ocupar da guerra, de tudo o que diz respeito à criação de impostos, aos problemas relativos às leis, das questões relativas à administração diária, aos aliados, quando precisa, ainda, receber os tributos e ocupar-se dos arsenais, da marinha e dos templos? Será de se espantar que os atenienses, sobrecarregados por tantos assuntos, tardem em dar resposta às súplicas?

 

[...] Ainda há outros casos a resolver, por exemplo os [...] das pessoas que constroem a sua casa num terreno pertencente à cidade. É também preciso julgar os coregos nomeados para as Dionísias, as Targélias, as Panatenéias, para as festas de Prometeu e as de Hefesto, festas que todos os anos se fazem. [...] Por outro lado, é preciso submeter ao exame os magistrados designados e julgar quando há contestação, ocupar-se dos órfãos e nomear os guardas das prisões, e tudo isto todos os anos.

(Xenofonte, República ateniense.)

CORRUPÇÃO DA DEMOCRACIA

Ah! Atenienses, se a boulé dos Quinhentos e a ekklesía estivessem regularmente dirigidas por aqueles que as presidem, se ainda se observassem as leis de Sólon sobre a disciplina dos oradores, o mais idoso dos oradores sendo o primeiro a falar, como o prescrevem as leis, podia subir à tribuna sem ser interrompido pelo tumulto e, tirando partido da sua experiência, dar ao povo os melhores conselhos. Em seguida viriam falar aqueles dois outros cidadãos que o desejassem, cada um por sua vez, segundo a sua idade, para dar a sua opinião sobre todas as coisas. Parece-me que assim a cidade seria mais bem governada e que as ações judiciais se tornariam mais raras. Mas, hoje, as regras que todos consideravam boas foram abandonadas (...). 


As ações judiciárias previstas pelas leis são abandonadas, substituem-se por ações decididas por decreto no meio da agitação. [...]. E nem as leis, nem os prítanes [...] nem a tribo que exerce a pritania que representa um décimo do corpo cívico, nada podem contra a falta de disciplina dos oradores. Visto que as coisas chegaram a isto, visto que vós próprios vos dais conta que a situação da cidade chegou a tal Ponto que pouco a pouco, sem vos dardes conta, tereis abandonado a politeia a um pequeno número de homens.

(Ésquines, Contra Ctesifonte)


POLÍTICA ESPARTANA

Rei Leônidas
Em Esparta (Σπάρτη), apesar da limitação da cidadania a um pequeno grupo - os espartanos (Σπαρτιάτες) -, as regras coletivas imperavam sobre as decisões individuais, tanto quanto em Atenas (Αθήνας). A diferença é que nenhum espaço havia para o indivíduo, que nem mesmo construía uma vida social em sua própria casa, restando-lhe as comunidades organizadas pelo Estado, onde se realizavam refeições comunitárias. O comportamento do espartano (Σπαρτιάτης) devia ser exemplar, pois sua desonra pessoal significava uma vergonha pública, conforme nos conta Heródoto (Ηρόδοτος).


Certa ocasião, quando os espartanos enfrentaram os persas, em Termópilas, Êuritos e Aristôdamos, dois guerreiros foram dispensados do combate por estarem doentes e tiveram permissão para regressarem a Esparta, caso quisessem. Êuritos Preferiu Permanecer. Ficou, lutou e morreu, já Aristôdamos regressou sem ter combatido. Foi recebido com opróbrio e desonra. Nenhum espartano queria ajudá-lo a acender o fogo de sua casa, ninguém lhe dirigia a palavra e era chamado Aristôdamos, o Covarde. [...] Anos mais tarde, na batalha de Platéa, ele fez o que pôde para escapar da vergonha que sofria, e no entanto não conseguiu receber qualquer honraria. Na opinião dos espartanos, Aristôdamos abandonou seu posto como um possesso, e porque queria provar que não era covarde, se expôs à morte; já Poseidônios se portou como um bravo sem procurar a morte.

( Heródoto, História.)


 REPRESSÃO DOS REVOLTOSOS
A repressão aos possíveis revoltosos era regra em Esparta.


Os atenienses estavam bem próximos do Peloponeso [...] e os lacedemônios estavam contentes Por terem um Pretexto para mandar os hilotas para longe, afim de impedi-los de tentar revoltar-se na situação Presente em que Pílos caíra nas mãos do inimigo. Realmente, por medo de sua juventude e de seu número - na verdade, a maioria das medidas adotadas pelos lacedemônios visava sempre a protegê-los contra os hilotas - eles, em certa ocasião, haviam chegado ao extremo de recorrer ao seguinte estratagema: fizeram uma proclamação no sentido de que todos os hilotas que pretendiam ter prestado aos lacedemônios bons serviços na guerra se apresentassem Para que fossem libertados. 


Na realidade estavam apenas submetendo-os a uma Prova; Pois Pensavam que os candidatos que primeiro se apresentassem seriam os candidatos a comandar alguma rebelião. Nessa prova selecionaram dois mil hilotas, que receberam coroas, percorreram os templos, como se já estivessem livres, e depois ninguém soube de seu destino.

(Tucídides, A Guerra do Peloponeso.)


As diferenças de poder através do relato de uma conspiração


        No fim do século V a.C. e início do século IV a.C., quando em Esparta (Σπάρτη) reinava Agesislau (Ἀγησίλαος), um adivinho lhe avisou que haveria uma grande conspiração. Poucos dias depois um delator relatou aos éforos tudo o que sabia.

 

Kinadon, um jovem cheio de energia, mas que não fazia parte dos Pares (talvez fizesse parte dos inferiores - os espartíatas que não recebiam o lote da terra cívica - ao certo sabemos que fazia parte da polícia secreta) [...] o conduziu à ágora e pediu que contasse quantos espartíatas havia ali. E eu, depois de contar o rei, os éforos (5), os membros da gerúsia (28) e outros que perfaziam 40, perguntei-lhe por que me pedia para contar as pessoas, e ele disse que eu considerasse essas pessoas suas inimigas e, como aliados, todos os outros que estavam na ágora, e que eram mais de quatro mil. [...]Os éforos, então, perguntaram ao delator quantas pessoas estavam avisadas, e ele respondeu que, segundo Kinadon, os responsáveis falaram com um pequeno número de homens, dignos de confiança; esses lhe diziam que o conjunto dos hilotas, [...], dos inferiores e dos periecos apoiavam a idéia, pois sempre que se referiam aos espartíatas não escondiam o prazer em comê-los vivos. O informante contou que, segundo Kinadon, os que serviram no exército tinham as armas necessárias, e quanto à massa [...] ela se serviria do mercado dos ferreiros, onde se podia ver grande quantidade de punhais, espadas, machados, espetos, cunhas e foices. Os trabalhadores da, terra usariam a madeira e as pedras; e quanto aos artesãos, utilizariam suas ferramentas. Eram armas suficientes para um combate, sobretudo com quem não as tem.


Uma vez informados, os éforos deram uma missão a Kinadon, desviando-o de suas funções no movimento revoltoso, prenderam-no e fizeram-no confessar, abortando assim a revolta.

(Xenofonte, Helênicos.)

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